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domingo, 27 de janeiro de 2013

A família Lanzani - Capítulo 21

A família Lanzani


Capítulo 21 - Surpreender


— Lali?

Ouviu Peter chamar, como se a voz dele emergisse de um nevoeiro. Então, revirou-se no sofá, tomando consciência de que havia apagado.

— Acabei.

Lali sentou-se e apertou os olhos, forçando sua mente a acompanhar o corpo.

— Acabou o quê?

— O quarto de Miguel.

O cérebro dela, finalmente, pegou no tranco. Peter trabalhara o final de semana inteiro no quarto do bebê. Continuou fazendo compras, cuidando para que os móveis fossem entregues, transportando ele mesmo os itens menores e também dando os toques finais do que Lali ainda estava para ver.

Queria fazer uma surpresa para Miguel e isso significava surpreendê-la também.

Lali espiou o relógio. Eram mais de 10 horas da noite de domingo.

— Coloquei Miguel para dormir há uma hora. Chester foi com ele.

— Oh. — Desapontado, Peter sentou-se no sofá ao lado dela. — Não percebi que já era tão tarde. Perdi completamente a noção do tempo.

— Eu posso acordá-lo.

— Não, tudo bem. — Ele se virou para admirá-la, a ansiedade reluzindo em seus olhos. — Você quer ir ver?

— Você está brincando? Eu me controlei o máximo para não dar uma espiada sem que você notasse. Estou morrendo de vontade de ver isso. — Lali se colocara atrás da porta durante dias, ouvindo o barulho que vinha do quarto, o arrastar dos pés dele, ás pancadas do martelo.

— Na verdade, ficou muito bom.

Peter deu um pulo do sofá e Lali o seguiu até o quarto. Chegando lá, ficou completamente paralisada.

— Oh, Peter.

" Bom" não servia sequer para começar a descrever o que ele havia feito.

Peter decorou cada canto, cada fenda, cada milímetro de espaço disponível. O abajur na penteadeira projetava as silhuetas de cowboys, figuras que combinavam com os entalhes do berço. Havia um sofá feito sob medida para crianças, guarnecido com almofadas aconchegantes, e ainda um baú, abarrotado de carrinhos, caminhões e simpáticos bichinhos da fazenda.

Aquelas figuras nas paredes!

— Você os encontrou. — Os cavalinhos de carrossel dos quais conversaram. Pôneis pintados, com crinas que flutuavam e cascos dançarinos.

— Quase desisti. Então, fiz uma busca na Internet. - E, provavelmente, gastara uma fortuna para que tudo lhe fosse enviado de navio, da noite para o dia.

— Ficou lindo, cada detalhe.

As prateleiras de carvalho entalhadas que ele acrescentou; o recosto de couro; as cortinas com estamparia de bezerros; as botas de cowboys antigas que ele pregou em volta da moldura da porta; o filtro dos sonhos, coberto pela renda caprichosa, as penas e contas oscilando sobre o berço.

O cavalo de balanço, reparou Lali, adquirira um parceiro. Um pônei de madeira, menor e mais simples, que Miguel poderia alcançar sozinho.



— Poderá levar tudo isso com você — garantiu Peter. — Exceto as cortinas, eu acho. A não ser que se enquadrem em sua próxima janela.

Lali não queria pensar em partir. Desejava focalizar seu pensamento no simples fato de estar ali, na casa de Peter.

— Miguel vai ficar maravilhado.

— Espero que sim. — Peter enganchou os polegares nos bolsos, uma postura muito mais casual do que suas emoções permitiam. — Não quero que ele se sinta como um menino de segunda mão. Não agora. E, certamente, nem mais tarde.

Mais uma vez, Lali lutava contra o futuro, a dura realidade que a aguardava: ter que criar Miguel sozinha.

— "Mais tarde" pode demorar a chegar.

— Talvez não demore tanto.

— Ele ainda é um bebê.

— Logo Miguel aprenderá a andar. E depois a falar. Então, começará a pensar a respeito do pai dele. Sobre mim.

— Sim, você. — O pai do bebê que morreu. A criança cujo coração não bateu. Sem pulso.

— Como vai ser quando Miguel for grande o bastante para compreender a verdade? Você vai contar a ele sobre seus verdadeiros pais?

— Vico e Cande não querem que ele saiba. A não ser que se torne estritamente necessário. No caso dele precisar de uma cirurgia de emergência, ou se você decidir que não consegue lidar...

— Vamos nos preocupar com isso quando chegar a hora. Mas eu pretendo enviar dinheiro quando você precisar. Assim que você conseguir se instalar.

Deus me perdoe, disse para si mesma. Por não contar nada sobre o filho dele.

— Dinheiro não é o problema, Peter.

— Eu sei.

Mas era importante para ele, imaginou Lali. O bem-estar de Miguel era importante.

— Ele vai respeitar você.

O pônei parou de balançar.

— Como ele poderá me respeitar, se não estarei por perto?

— Então contarei a verdade. Não vou deixar que ele pense mal de você.

Peter ficou carrancudo.

— Meu pai era um bastardo. Seu pai era um bastardo. E o pai de Victorio também. Todos nós temos essa marca.

Imagens da infância emergiram na mente de Lali. Seu pai berrando com o enteado delinquente; o irmão batendo a porta; sua mãe fumando um cigarro atrás do outro em frente à TV; Lali correndo em volta da cozinha como um rato, lavando os pratos e rezando para não quebrar nenhum.

— Acho que foi pior para você — disse Peter. — Victorio mal se lembra do pai verdadeiro, e eu nunca conheci o meu. Mas você ainda tentava agradar o seu.

— Fiquei feliz quando ele nos deixou. Vai ser diferente com Miguel. Já é diferente.

— Eu não quis trazer todo esse lixo de volta para aborrecer você.

— Não estou aborrecida. Como poderia estar? — Lali levantou o véu negro e triste que pendia sobre seu coração. Empenhara noites demais num duelo contra o passado, muitas noites longas e intermináveis imaginando por que o pai fora tão cruel e exigente, por que a mãe tomava o partido dele, por que o irmão se metera com a Máfia, por que o bebê ao qual dera à luz falecera.


— Olhe bem para este quarto. Veja a mágica que você criou. — Lali recuou um passo para abraçá-lo. — É incrível...

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