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domingo, 6 de janeiro de 2013

A família Lanzani - Capítulo 12


A família Lanzani


Capítulo 12 - Ah, é só o Chester.


— Não estou, não. — Mas estava, e ambos sabiam disso. Lali sempre teve um senso de humor patético, mesmo quando se tratava do cara-de-pau do irmão.

— Obrigada por tomar conta dele enquanto eu estava no chuveiro.

— Eu só peguei o pônei do chão. — Mas, dali em diante, Peter decidiu que não serviria de apanhador oficial para o pequenino filhote de lobo. Por mais bonitinho que Miguel fosse, Peter não queria mimar o filho de Victorio. E também não planejava passar as manhãs jogando conversa fora com Lali. O robe dela se abria de novo, e as paredes o estavam sufocando.

— Eu tenho que ir. Terei um dia cheio pela frente. —Peter ainda precisava contar para o primo que Lali voltara.

E mentir acerca de Miguel ser filho deles.

Peter se encontrou com o primo no escritório do estábulo. Nicolas Rieira dividia seu tempo entre ministrar aulas de equitação na arena e bancar o cicerone dos passeios guiados às montanhas. Evidentemente, hoje em dia, o pródigo rancheiro se contentava ficando em casa com a esposa e com o filho recém-nascido.

Nico conquistara seu direito à felicidade,Peter acreditava. Havia perdido a primeira esposa num acidente de carro, uma colisão tão violenta que uma das pernas precisou ser amputada. Mas aquilo não o restringia em nada. Nico usava uma prótese, e era tão ativo e atlético quanto qualquer outro cowboy que Peter conhecesse.

— Ei — saudou Nico, avistando Peter da sua escrivaninha. Seu espaço de trabalho, como de costume, estava impecável. Peter era muito responsável.

Está bem, talvez os atrasos para as reuniões fossem notoriamente reconhecidos. Assim como o fato de que, nas noites longas, escuras e solitárias, Peter assistia a filmes eróticos, ficando mais bêbado do que um gambá. Mas ao menos ele não se tornou como Victorio.

Entretanto, aos poucos, as lições de Nico começaram a penetrar suas cabeças duras. Até mesmo Vico começou a seguir a filosofia indígena, por todo o bem-estar que lhe causara.

— Você tem um minuto? — indagou Peter.

Nico se voltou para ele novamente.

— Claro. O que você quer?

— Lali voltou.

A expressão no rosto do Primo congelou.

— Ela está em casa?

— Sim. Em casa.

— E o que mais? — Nico se chegou para perto, sentando na beira da mesa.

— Ela... nós... — Como diabos poderia mentir para o primo, o homem que cuidara da sua mãe enferma, construíra aquele rancho e o tratava como a um filho?

— O que está errado? Por onde ela andava?

— Com Vico Eles... — Peter parou, inseguro sobre o quanto estava autorizado a revelar. Devia ter perguntado a Lali. Devia ter...

— Peter — pressionou Nico.

— Victorio precisou se esconder de alguns criminosos, e Lali estava com ele. Não pôde voltar, até agora.

— E Vico está bem?

— Desde que eu saiba, parece que sim. — Eliminando os pormenores sobre a Máfia, Peter prosseguiu. — A coisa mais importante que eu precisava contar ao senhor é que Lali teve um bebê enquanto estava fora. Meu filho....

Pronto. Conseguiu. Com toda pompa, Peter deixou que a mentira jorrasse, com o máximo de convicção da qual pôde dispor.

— Uau. — Admirado, Nico só conseguia encarar o sobrinho. — É um menino ou uma menina?

— Um menino. Ele tem 10 meses e seu nome é Miguel.

— Mas isso é incrível.

— Ah, oh se é.

Por um momento, ambos permaneceram em silêncio, e então o primo perguntou:

— Você está bem com toda esta história? Deve ter sido um choque. E eu sei o quanto você se sente desconfortável a respeito da...

— Legitimidade? — completou Peter, antes que Nico pudesse terminar. Sabia perfeitamente que aquilo passaria na mente do primo. Peter prometera muitos anos atrás que jamais engravidaria uma mulher sem casar-se com ela. Não queria cometer o mesmo erro do pai.

— Lali e eu estamos tentando consertar as coisas, mas tudo está um pouco tenso por enquanto.

— Compreendo.

— Você acha que poderia espalhar a novidade? Contar ao pessoal que Lali está de volta. E mencionar Miguel. Não gostaria que eu mesmo tivesse que contar a todo mundo. — Fez uma pausa para tomar o fôlego necessário. — E eu ficaria muito grato se o senhor pedisse às pessoas que nos dessem um pouco de privacidade. Ainda não estou pronto para lidar com visitas passando por lá, levando bolos ou tortas, ou qualquer outra coisa.

— Sem problema. Cuidarei disso.

— Obrigado. Vou sair agora. Tenho algumas coisas para fazer no hotel.

Nico tateou com as mãos, procurando a xícara de café sobre a mesa.

— Você vai me dizer quando poderei ver seu filho? E Lali?

Sem dizer uma palavra, Peter concordou com a cabeça, e então agarrou o chapéu e esquivou-se rapidamente pela porta, temendo a decepção que já estava começando a viver.



Lali não sabia o que fazer. Aquele cão enorme continuava a arranhar a porta e a latir. Chegara até a uivar algumas vezes, um grito de guerra capaz de acordar os mortos.Lali fez uma careta. Agora o cachorro começara a ganir, e aqueles latidos cortantes e agudos perfuravam seus tímpanos.

Aquilo era o suficiente. Era hora de ligar para Peter. Ainda lembrava o número do celular dele.

Enquanto o cachorro gania e gemia, e tentava entrar na casa a patadas, ela digitou o número.

— Alô?

— Peter, sou eu Lali.

A linha ficou silenciosa, e Lali amaldiçoou a prudência dele. Alguém até poderia pensar que estava com a doença que deixa a boca espumante. E falando nisso...

— Tem uma criatura gigantesca na porta, que não quer ir embora. Ele está latindo, uivando e arfando...

— Ah, é o Chester.

— O quê?

— Chester. Meu cachorro.

—Aquele canino pestilento e mordido de pulgas era seu bicho de estimação?

— Ei, não precisa ofender...Como está a aparência dele? — quis saber Peter.

Aquilo era alguma piada?

— Parece o cão do inferno.

Uma risada ecoou do outro lado da linha.

— É ele. Só pode ser Chester. Ele esteve fora, farreando. Sempre faz isso. Alguns dias depois, ele arrasta seu traseiro arrependido até em casa, atrás de uma cama quente e um bom prato de comida.

— Você deixou essa fera correr solta por aí? Andar com outros cachorros?

— Não. — Ele se corrigiu. — Só que ainda pensa que seu equipamento continua intacto.

Lali torceu o fio do telefone, enrolando-o em volta do pulso.

— É melhor que ele não tenha a mania de subir na perna das pessoas.

Peter deu uma gargalhada.

— Nunca vi Chester fazer isso. Mas, claro, uma vez ele enfiou o nariz no vestido daquela gata maravilhosa.

Lali olhou enfezada para o telefone.

— Que gata maravilhosa?

— Chester só fez isso uma vez, de qualquer maneira.

— Uma vez é o suficiente.

— Eu sei, mas você não pode culpar um sujeito por tentar.

— O que você espera que eu faça? Estou trancada em casa com uma criança adormecida e o seu fiel animalzinho está tentando cavar um buraco debaixo da porta da frente.

— Então deixe o cachorro entrar. Ele não vai machucá-la.

— Você não pode estar falando sério. Esse cachorro é grande e feio. E também é um bocado nojento — acrescentou ela.

— Ah, ele deve ter brincado na lama. Corrido na chuva e tudo mais. Mantenha a calma, vou passar aí para dar um banho nele.

— É melhor você vir logo.

— Pode deixar.

Desligaram, e Lali ficou esperando. E esperou mais um pouco.

Miguel despertou com um choro lamuriento. Lali pegou o bebê no colo, levando-o até a sala de estar para esperar com ela. Seus olhos sonolentos se tornaram grandes e brilhantes. Quando o menino começou a balançar as mãos, golpeando o rosto com elas, Lali tentou apaziguá-lo.

— É só o cachorro do papai, meu anjo.

— Ta...ta...ta.

Finalmente, Lali ouviu o motor da caminhonete de Peter, e assim que se certificou que ele havia prendido o cão, abriu a porta e espiou pela tela da porta.

Miguel fez um ruído de alegria, e Lali o balançou com os quadris.



No pátio da frente, a duras penas Peter tentava dar um banho na criatura. Enquanto o rapaz lutava para ensaboar e molhar o cachorro com a mangueira, xingando a cada tentativa frustrada, Miguel ria estrondosamente.

Lali também riu. Enfim, Chester sacudiu seu corpanzil preto, encharcando seu mestre com água.

Miguel bateu palmas, e o cachorro de Peter apareceu na porta de tela.

— Quem deu um banho em quem? — provocou Lali.

— Muito engraçado. Será que você pode me trazer algumas toalhas?

Abrindo apenas um bocadinho da tela, Lali deslizou as toalhas pela fresta estreita. Peter se enxugou primeiro, depois foi atrás do cachorro.

— Venha aqui fora conhecê-lo — convidou Peter

Lali abraçou o bebê.

— E se ele tentar morder Miguel?

— Chester gosta de crianças.

— É melhor mesmo.

— Ele gosta, eu juro.

— Está bem. — Desconfiada, Lali rastejou para fora, segurando o filho bem firme.

Miguel fingiu bater asas, e Lali torceu para que aquele cachorro esquisito não o confundisse com um pássaro. A fera gania, agitada.

Peter escoltou Lali e Miguel até o balanço da varanda, e o cão seguiu atrás.

— Chester, diga olá para Lali

— Ta...ta... ta... ta.

— Você quer conhecer o cachorrinho? — encorajou Peter — Então venha aqui. — Forrou o colo com uma toalha seca e tomou o menino de Lali.

Deixou que Miguel acariciasse Chester, e o cachorro aconchegou o focinho na mão do menino.

— Essa não — disse Lali admirada. Chester era manso como uma ovelha. Uma ovelha muito feia, com um focinho pontudo, olhos caídos e orelhas enormes. — Onde você arrumou esse cachorro, Peter


— No abrigo de animais. Eu estava... ele estava... — Hesitante, pigarreou. — Eu o peguei alguns meses depois que você partiu. Precisava de alguém para me fazer companhia. A casa estava quieta como o diabo, e Chester trouxe um pouco mais de vida a este lugar...

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