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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A família Lanzani - Capítulo 14


A família Lanzani


Capítulo 14 - O outro bebê


— Eu não estou bêbado.

Lali sabia disso também, ele não costumava dirigir alcoolizado.

Peter se escorou contra o móvel da televisão.

— Não sei o que fazer comigo mesmo. Parece uma maldição de tão complicado.

Com a ponta dos dentes, Lali despedaçou ainda mais as unhas arruinadas.

— Sinto muito ter causado tantos problemas.

— Eu vou superar tudo isso.

Será? Lali não tinha tanta certeza.



Mas ela nunca soube exatamente o que esperar de Peter. Ele podia estar sorridente num minuto e absolutamente mal-humorado no instante seguinte. Ele mantinha alguns ângulos da sua personalidade sob segredo: lugares remotos e sombrios, lugares onde Peter não permitiria que ninguém tocasse.

Lali quis iluminar aqueles ângulos obscuros, deslizar para dentro da alma de Peter, do mesmo modo como ele penetrara a dela, mas falhou tentando.

Peter largou as chaves sobre uma prateleira.

— Gostaria de saber onde ele está. Você faz idéia de onde ele se meteu?

Sabia que Peter estava falando de Vico, e achou estranho que agora ele estivesse pensando no seu irmão. Victorio e Peter eram farinha do mesmo saco e, apesar disso, compartilhavam de uma relação de amor e ódio que Lali jamais compreenderia.

— Não, eu não sei. Mas espero ter notícias dele

Peter sobressaltou-se.

— Como? Quando?

— Nós concordamos em fazer uma ligação. Temos uma data específica marcada. Lá pelo fim do mês.

Vico tinha necessidade de saber que o filho estava a salvo, que a criança da qual desistira estava feliz e saudável. A voz de Peter se tornou amarga.

— Uma ligação? Quer dizer que ele pode ligar para você, mas você não pôde ligar para mim todos esses meses?

Lali procurou não se irritar, não reagir ao volume da voz dele nem à frieza no seu olhar.

— Isso é diferente.Vico usará uma linha segura.

— De onde?

— Aqui. — Foi até a escrivaninha, sobre a qual o aparelho telefônico descansava. — Vico me deu um codificador igual ao que ele estará usando. Com uma unidade dessas, presa à extremidade de cada aparelho, nossa chamada será criptografada.

— E não importa se os telefones estiverem grampeados?



— Não, mas eu me sentiria mais segura checando se as linhas estão limpas, antes que ele ligasse. Caso o equipamento funcione mal, caso nos encontrem... — Deixou as palavras esvanecerem, desaparecendo na quietude da sala.

— Onde ele estava, da última vez que o viu?

— E isso importa? — Ficou olhando Peter tirar a jaqueta, atirando-a de qualquer jeito sobre a cadeira. — A essa altura Vico já está na estrada de novo.



 — Bons ventos o levem.

Como podia ser tão frio? Tão insensível?

— Eu queria que você não odiasse Vico tanto assim.

— E eu queria que você parasse de defendê-lo dessa maneira.



— Não posso. — Não depois do revés que atravessaram juntos, das lágrimas que derramaram. O que ambos sofreram quando adultos foi muito pior do que infância tumultuada.

— Vico é a única família que me resta. Ele e Miguel.

— Ele ferrou com nossas vidas, Lali.

— Por quê? Porque ele nos manteve afastados enquanto eu ainda era muito nova?

— Primeiro, eu não tinha permissão para sequer tocar em você. Depois, ele tentou me obrigar à força a casar com você. Victorio tentou controlar cada aspecto do nosso relacionamento. Cada detalhe do que acontecesse entre nós dois.

— Vico fez isso? — Lali não era informada sobre as brigas entre Peter e Vico, sobre as disputas aos empurrões que ambos se recusavam a discutir. — Vico estava errado, mas você também estava.

— Eu?

— Sim, você. — Ao menos, Vico se preocupava com ela. — Você não tinha o direito de banir meu irmão da minha vida. Apesar de toda sua grosseria, ele queria o meu bem.

— Ele estava se intrometendo em nossas vidas.

— Porque ele esperava que você se casasse comigo?



Peter simplesmente olhava para ela, mas Lali percebeu que atingira um ponto nevrálgico.

— Era mais que isso.

— Era mesmo? — desafiou, mordida pela dúvida. Sempre suspeitara que Peter não quisesse se casar com ela, que escarnecia da idéia sobre serem felizes-para-todo-o-sempre. Mas tudo aquilo que via nos olhos dele agora explodiu no seu rosto como uma bofetada.

— Seu irmão é um ex-presidiário. Um ladrão.

— Vico é um bom homem, confuso, mas bom. E você virou as costas para ele.

— Ah, é? — Peter chegou mais perto. — Você acha que assumir o filho dele é dar as costas? Concordei em me tornar o pai daquele garotinho. Em contar para todo mundo que ele é meu filho.

Lali piscava sem parar, atordoada com a emoção na voz dele. Pelo simples impacto daquilo que Peter estava dizendo. A criança que Vico lhe confiara era uma responsabilidade que não poderia recusar, um gesto de fraternidade Cherokee.

Peter apertou as mãos dentro dos bolsos, e Lali sentiu os olhos marejados de lágrimas. Não podia deixar de pensar sobre o outro pônei.


O outro bebê...

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