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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A família Lanzani - Capítulo 17

A família Lanzani



Capítulo 17 - Pequeno corvo




— Não acha o quê? — indagou Nicolas, imitando o barulho de um avião para Miguel, que o arremedava com mímicas.


— Não acho que Miguel se pareça comigo.


O silêncio inundou a sala, e Nicolas simplesmente cravou os olhos em Peter. Lali se remexeu no assento. Primeiro aquele beijo humilhante, e agora isso. Peter aceitou assumir o filho de Vico, mas não parecia lá muito preocupado em proteger aquela atitude. Sobre...


— Ele é mais bonito do que eu. — Peter se levantou, dissipando a tensão. — E você não é mesmo, parceiro?


Percebendo o estrago, se dirigiu para o menino e Miguel se lançou ao seu encontro. Mas, alguns segundos depois, Miguel quis voltar para os braços de Nicolas.


Outro momento esquisito, Lali pensou consigo mesma. Miguel percebeu qual dos dois homens se sentia mais confortável em segurá-lo.


— Você realmente tem um forte instinto paternal. — Peter recuou, abandonando a criança com o primo.


— Você está brincando? Eu morri de medo no começo. — Nicolas manteve a voz suave, em tom de provocação. Olhou para a esposa buscando cumplicidade. — Não é verdade?


— Petrificado. Mas, principalmente, durante o estágio da gravidez.


— Perdi essa parte. — Isto, partindo de Peter, que se virará para espiar Lali.


Ela se esforçou ao máximo para aguentar o olhar do rapaz. Não queria pensar a respeito da gravidez. Sobre o fluxo da vida. O aconchego dos pequenos chutes.


Contemplou o pônei de Miguel. Ele trouxera consigo o brinquedo, que agora estava jogado no chão, a crina de fios dourados derramada sobre uma almofada.


O outro pônei estava dormindo, imaginou Lali. Dormindo com os anjos.


— Você quer ver o quarto do bebê? — convidou Euge. Lali colocou o prato na mesinha de café.


— Não vamos acordar o menino?


— De jeito nenhum. Ele continuaria dormindo mesmo com um tornado lá fora.Claro que quando acorda faminto ele é um tornado.


Lali sorriu. Era reconfortante ouvir outra mulher falar sobre seu filho. Ela havia segurado o bebê de Nicolas e Eugenia  mais cedo, naquela noite, e a criança era tão bonita quanto o próprio nome — Brendan Robert Riera. Ou Pequeno Corvo, como era chamado carinhosamente.


— Adoraria ver o quarto de criança.


O cômodo era claro e alegre, com um berço vermelho e branco, um padrão degrade na roupa de cama, e maçãs-do-amor aplicadas à mão nas paredes. Havia ursos de pelúcia em cada canto.


O bebê, que realmente se parecia com um pequeno corvo, dormia pacificamente, tufos ralos de cabelo loiro sobressaíam na pele de bronze.


Distraída, Lali olhou em volta.


— O quarto é maravilhoso. E todos esses ursos...


— Nico traz um para casa a cada semana. — Eugenia apontou para uma prateleira cheia. — Acho que já estamos ficando sem espaço.


Lali e Euge ouviram uma ligeira arfada, e se viraram na direção da porta.


Nicolas entrou no quarto com Miguel, e os olhos do menino se arregalaram, crescendo até ficar do tamanho de dois pires.


O anfitrião balançou o jovem sobrinho.


— Acho que alguém ficou impressionado.


— Parece que sim. — Lali nunca vira Miguel tão estupefato. Era natural, já que jamais havia visto um quarto especialmente arrumado para uma criança. Tudo o que ele conhecia eram carros, acampamentos e motéis baratos.


E a casa de fazenda de Peter, claro. Um lugar onde não fora recebido com muitas honras.


Só então Lali passou os olhos por Nicolas  e viu Peter. Estava encostado no canto, com uma expressão defensiva.


Miguel arfou novamente, e Nicolas beijou sua bochecha gorducha.


— Você pode vir aqui brincar a hora que quiser — disse ao menino.


— Obrigada — murmurou Lali. Vico ficaria muito satisfeito, muito feliz em saber que Miguel tinha um tio que o adorava.


Vico admirava Nicolas Riera, e por um bom motivo. Ele havia concedido a Vico o mesmo apoio que dera a Peter. Sem Nicolas, o irmão de Lali estaria completamente perdido.


De alguma forma, Lali sabia que Nicolas não faria a menor distinção se lhe contasse que Miguel era filho de Vico. Não que devesse fazer isso e, afinal, ver Nicolas com Miguel aquecia seu coração da mesma forma.


— Que tal um café? E suco para Miguel? — Euge comandou todos de volta para a sala de estar.


Miguel tomou sua mamadeira, adormecendo logo depois sobre a almofada, ao lado do pônei.


Enquanto o bebê dormia, Lali tomou um gole de café e conversou com Eugenia e Nicolas.


Peter, ao contrário, permaneceu calado durante o resto da noite. De vez em quando, procurava pelo olhar de Lali, mas a moça não tinha pistas acerca do que ele estava pensando. Nenhuma pista mesmo.








Mais tarde naquela noite, Lali foi até a cozinha, onde Peter rabiscava numa folha de papel, seus pensamentos girando em torno dele num vórtice.


Abaixou a caneta e olhou para Lali. Ela havia trocado de roupa, e agora vestia uma calça de moletom e uma camiseta bem larga. Peter desejou que, ao menos, Lali tivesse o bom senso de usar um sutiã. Podia acompanhar o contorno vago dos seios e o ligeiro eriçar daqueles mamilos sensíveis.


— Miguel ainda está dormindo? — perguntou Peter.


— Completamente apagado.


— Acho que ele teve um dia cheio.


— Miguel nunca esteve com muita gente. Na estrada, tínhamos que ser cautelosos. Nunca sabíamos em quem confiar. — Lali suspirou. — Talvez, por isso, Miguel seja tão sociável.


— É fácil gostar daquele.


— É mesmo.


E Peterr ficara com ciúmes porque o menino se adaptara muito bem a Nicolas.


No forno de micro-ondas, Lali preparou uma xícara de leite morno para si. Nas longas noites de inverno, costumava cozinhar no fogão de ferro, algo que sempre fascinara Peter. Ele havia comprado a antigüidade só porque combinava com o estilo da casa. Na verdade, nunca tivera a intenção de usar aquele velho utensílio.


— Quer ir lá para fora? — convidou Peter. — Talvez sentar na varanda por um tempo?


— Claro. — Levou o leite consigo, assoprando a borda da xícara.




Uma brisa leve soprava, instigando os aromas da noite...

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