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domingo, 23 de dezembro de 2012

A família Lanzani - Capítulo 6

A família Lanzani


Capítulo 6 - Que mentira?




- Nós tivemos que fugir.

- De quem? Do pai de Cande?

- Sim. - Ela ergueu a cabeça, encontrando o olhar de Peter. Sua voz assumiu um tom assustado. - O pai dela não é um homem comum. Ele é...

- Ele é o quê?

- Ele é chefe de uma organização criminosa em Los Angeles. Nós estávamos fugindo da Família da Costa Oeste.

- Você quer dizer a Máfia? Os caras que comandam círculos de chantagem e extorsão? Contrabando de drogas? Que enchem seus inimigos de buracos de bala?

- Sim - respondeu ela baixinho - a Máfia.



- Eu estava encurralada - contou Lali, rezando para que Peter compreendesse. - E não podia avisar você. Não podia correr o risco de fazer qualquer ligação.

- Você está tentando me convencer que Vico não poderia revirar a linha telefônica do esconderijo de vocês e assim impedir que os bandidos rastreassem as ligações?

- Claro, mas é que isso não seria o bastante. Nossas ligações ainda poderiam ser interceptadas, mesmo se o equipamento de escuta não fosse capaz de apontar o local de onde estavam partindo com exatidão.

- E daí?

- E daí que nós não tínhamos a menor idéia do que eles iriam fazer.A Máfia geralmente não toma reféns nem fere pessoas inocentes, mas aquilo era diferente.

Orgulhoso demais para se deixar persuadir por um argumento como aquele, Peter fitou seu Iphone 4 novo desconfiado.

- Você temia que os gângsteres pudessem me ferir?

- Ou então ameaçar alguém próximo a você. Considere, apenas, o quanto você sabia.

A testa de Peter se enrugou ainda mais.

- Bom, mas eles poderiam ter feito o que quisessem, de qualquer maneira.

- Não havia necessidade disso. Ao menos não enquanto eles não suspeitassem de que você pudesse estar se comunicando comigo. De que você estivesse envolvido de alguma forma. Talvez até ajudando Vico.

- E, por isso, você me deixou aqui sofrendo, imaginando onde poderia estar e por que teria partido?

- Foi exatamente isso - respondeu Lali. - Era a única coisa que eu podia ter feito para garantir sua segurança.

Como Peter se calou, Lali foi em frente.

- Meu irmão estava correndo um grande perigo. Vico não queria apenas se corrigir, rompendo sua ligação com a Máfia, ele tinha se apaixonado pela filha do chefe. Uma combinação fatal.

- E onde Vico está agora? - quis saber Peter.

Lali deu uma olhadela no bebê, entretido com um pônei musical.

- Ainda está fugindo.

- Mas você está aqui, com o filho dele.

- Eu sei. - Lali observou o pônei. Vico havia comprado o cavalinho para Miguel apenas algumas semanas antes de ele nascer. Aquele era o único brinquedo que a criança possuía que não viera de uma loja de usados.

Havia um outro pônei que tocava canções de ninar, lembrou Lali. Enterrado perto de uma cabana em Oklahoma.

- Me conte mais sobre a mãe de Miguel.

Lali tomou um gole do café amargo coado por Peter, esperando acalmar as mãos que tremiam insistentemente. Ela ainda sonhava com o outro pônei. Ainda acordava no meio da noite em prantos.

- Cande não estava bem, ela teve uma gravidez difícil. Eu fiquei preocupada com o parto, se haveria alguma complicação.

- E houve?



- Não, correu tudo bem. Foi um parto longo, mas deu tudo certo.

Lali se lembrou do caixote, embrulhado em couro, que Vico havia enterrado. As preces Cherokee que ele entoou naquele dia ficariam gravadas para sempre na sua mente, no seu coração.

- Mas logo depois que Miguel nasceu, Cande ficou doente. Primeiro, imaginou que fosse apenas estresse. Nos mudávamos constantemente, e isso exigia um grande sacrifício de cada um de nós. Cande pegou uma tosse que não dava trégua. Mas, por mais que estivesse abatida, simplesmente se recusava a ir ao médico.

- Por quê? Porque ela tinha medo de chamar atenção?

- Isso mesmo. - Lali ainda podia ver Cande, pálida e cansada, deixando que ela tomasse conta do menino, durante os dias em que não tinha condições de cuidar dele. - Vico fez tudo o que podia para convencê-la a procurar um médico. No entanto, Cande estava determinada a se curar sozinha, tomando remédios homeopáticos.

A voz de Peter assumiu um tom áspero.

- Mas que diabo Victorio estava planejando? Viver correndo na estrada para sempre?

- A princípio, ele e Cande queriam ir para o México. Mas o contato de Vico na Cidade do México revelou que a Máfia já estava lá, procurando por eles. - Lali estudou as próprias mãos, concentrando o olhar sobre as unhas compulsivamente roídas.

- Como não podíamos adivinhar onde mais eles estavam procurando, decidimos continuar fugindo. - Fazendo o possível para o dinheiro durar, lembrou ela. Sempre que podia, o irmão arrumava trabalho. Para isso, Vico usava carteiras de identidade falsas. Também trocava de veículo com freqüência, registrando os carros sob um nome fictício.

- Então, quem é o pai de Cande? Qual o nome dele?

- Enrique Halloway. O FBI chama a Família da Costa Oeste da Máfia de Hollywood. Halloway, Hollywood. É um trocadilho, e o sujeito tem conexões com a indústria do entretenimento.

Peter suspirou.

- Eu não sei nada sobre a Máfia, além daquilo que já vi na TV. Os caras italianos de Nova York. Ou Nova Jersey, ou qualquer outra cidade.

- A Família da Costa Oeste não é uma trupe de italianos caricatos. - E a morena sabia muito mais sobre a Máfia, mais do que jamais sonhara. Vico havia se "ordenado", o que significava sacrificar a própria alma pelo crime organizado. - Meu irmão estava estudando uma forma de me mandar de volta para casa. E de simular a morte dele, assim como a de Anahí e de Miguel. Para isso, Vico queria encenar um acidente no qual eu fosse a única sobrevivente. Mas Cande adoeceu e tudo mudou de figura.

- Ele devia ter mandado todos vocês para casa. Vico não podia ter mantido duas mulheres e um bebê nessa fuga desvairada.

- Cande não queria voltar para a família dela. Sempre detestou aquilo que o pai representava, o estilo de vida altamente luxuoso e corrupto, digno de um criminoso da sua estirpe. Além disso, ela amava Vico e queria ficar com ele, afinal, era seu marido. Seu marido Cherokee - enfatizou Lali. - Vico executou a antiga cerimônia do cobertor. Pode não ter o menor valor oficial, mas foi o bastante para que eles se sentissem unidos.

Peter balançou a cabeça.

- Nossa, quando você tinha 16 anos, cismou que eu tinha que fazer isso com você. Que idéia maluca.

Lali sentiu um aperto no peito.

- Eu era jovem e romântica, e queria que você se entregasse a mim.

Decidida a conter o choro, Lali sorriu de volta para Miguel. Ela tinha aquela criança para criar, praticamente um filho. E por esse motivo deveria ser forte.

- Cande morreu? - perguntou Peter, quebrando o silêncio.

- Não, mas provavelmente não irá viver por muito mais tempo. Quando o estado de Cande piorou, Vico insistiu em levá-la até uma clínica. Lá, depois de uma série de testes, os médicos descobriram que ela tinha um pequeno foco de carcinoma no pulmão, uma espécie de câncer que progride rapidamente. Sem tratamento, o tempo médio que alguém consegue sobreviver é de apenas dois ou quatro meses, a contar do diagnóstico. Nós tomamos uma decisão. Cande deveria retornar para a família. Ela precisava de cuidados médicos urgentes.

- Eu sinto muito - disse Peter, num tom solidário.

- Cande só tem 22 anos. E como ela não fuma, nós jamais seríamos capazes de pensar em câncer de pulmão.

- Mas por que Cande não levou o filho para casa com ela?

- Porque ela não queria que o pai tivesse alguma participação na educação dele.

- E seu irmão?

- Ele não podia cuidar de Miguel, não vivendo como um fugitivo daquele jeito. Ele sabia que o pai de Cande nunca desistiria de procurar por ele, e que sempre seria um alvo em potencial. Por isso, os dois resolveram renunciar ao filho, de modo que a criança pudesse ter a chance de levar uma vida segura e livre de toda aquela imundície.

"Nós fabricamos uma mentira. Era a única coisa que poderíamos fazer, nossa única alternativa."


- Que mentira? - indagou Peter, perscrutando Lali através de olhos escuros e penetrantes...

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